domingo, 29 de janeiro de 2012

Safra 2012/13: Oportunidade histórica para o café brasileiro

Ourique: ”A produção recorde brasileira vem ao encontro de números também recordes de consumo mundial”



A previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica que o País deverá colher entre 48,97 milhões e 52,27 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado, na safra 2012/13, o que corresponde a 50,61 milhões de sacas no ponto médio. Segundo o levantamento da Conab, divulgado em 10 de janeiro passado, esta será a maior safra já produzida no País, superando o volume de 48,48 milhões sacas colhidas na safra 2002/03.
Para Francisco Ourique, da Cooparaiso, o momento é muito mais importante e requer discussões profundas sobre o cenário do setor cafeeiro. “Nós já abandonamos a discussão sobre o tamanho de safra. O certo é discutir como estabelecer diretrizes com o governo, para explicar e tirar proveito das circunstâncias internacionais, que vêm do desequilíbrio de alguns países chaves e do sistema de crédito internacional, que vai afetar a vitalidade de importantes empresas torrefadoras e importadores de café”, relacionou ele.
Ourique disse que isso pode trazer conseqüências importantes: “Vai obrigar o Brasil a ter um esforço maior de reter ou fazer um escoamento mais ordenado de sua produção, o que estaria dando ao Brasil a grande oportunidade de tentar ingressar no mercado de produto acabado”, o que para ele é fundamental para a valorização do produto e do produtor.
Franciso Ourique diz que as lideranças do setor cafeeiro devem estar mais preocupadas agora é em “construir um plano de safra e definir estratégias e metas de médio prazo. Quanto mais cedo melhor se o governo federal conseguir colocar uma massa importante de crédito para fazer frente à falta de crédito do outro do lado do mundo, dos importadores. A situação vai obrigar o Brasil a ter um encargo de como atravessar a comercialização da safra e quanto mais cedo isso for feito, melhor”.
As ações em prol da cafeicultura, para Ourique, devem estar voltadas agora na construção de uma política propícia ao produtor. “Na verdade, portanto, a discussão e torno do número da safra é irrelevante. O mais importante é desenharmos uma política para uma safra de 50 a 55 milhões de sacas e se for menor, melhor ainda. Tem que fazer um plano de safra dando ao produtor a capacidade para se financiar, fazer sua colheita e pré comercialização de forma extremamente ordenada. A massa de recursos disponíveis do Funcafé não vai dar para isso. O Funcafé pode até ser um grande agente fomentador de recursos, mas não pode ser fonte primária”, aponta.
Ourique diz que essas necessidades já estão sendo analisadas. “Nós vamos ter várias propostas que serão apresentadas ao fórum CDPC (Conselho Deliberativo da Política do Café), que deverá se reunir em fevereiro para dar início ao processo. Por exemplo, o plano de safra tem que ter um agendamento para começar a ser colocado em abril. Temos que salientar a urgência dessa necessidade. O plano de safra para o café teria que sair junto com o preço mínimo, em abril, ou seja, ele tem que estar efetivado em março.
 A safra
Em relação aos números divulgados pela Conab sobre a safra, Francisco Ourique explica que “a safra possui duas condicionantes: um ciclo climático de condições naturais e, no caso do café, do ciclo de bienalidade. A Conab é a instituição que o Funcafé financia para fazer o levantamento de safra. Nós achamos que é possível melhorar os mecanismos, ou ferramentas, que a Conab utiliza para fazer seus levantamentos, mas na prática ainda não temos nenhuma proposta, no sentido de negociar com ela e com o governo federal uma evolução no instrumental para levantamento de safra. É o que o governo federal tem em mão para fazer não só o levantamento de safra, como também o custo de produção e fixação do preço mínimo”, diz.
Ele analisa que “a estimativa ao redor dos 50 milhões de sacas não é ruim. Cerca de 20 milhões de sacas vão para consumo interno e cerca de 30 milhões para exportação, o que já representa uma queda nas vendas externas em relação ao ano anterior. Adicionado isso ao fato de que a Colômbia está atravessando o seu quarto ano com problemas de safra e seus diferenciais 40 acima sendo praticados nesse preço, porque há uma escassez de cafés lavados; ainda refletem nos preços os baixos estoques de cafés certificados lá fora. É histórico que quando esses estoques caem abaixo de um milhão de sacas, há problemas na bolsa de Nova York”, pontua Ourique.
O cenário
Para Francisco Ourique, o cenário do café se encontra da seguinte forma: “O Brasil não vai ter estoque de passagem, ao contrário. Mantido o consumo interno, algo vai acontecer, porque a safra deste ano não permite ao Brasil continuar com esse fluxo de vendas. Se for assim, vamos chegar a um estoque de passagem em zero ou negativo; como negativo não é possível, se não soubermos comercializar uma safra de 50 milhões de sacas, que é importante, precisando de, no mínimo, 15 milhões de sacas para fazer o custeio, teremos sérios problemas. Quinze milhões de sacas a R$ 300 a saca, isso soma R$ 4,5 bilhões. Então, vai depender de como vão liberar recursos obrigatórios, recursos do Funcafé, ou seja, como todo sistema financeiro vai agir e vai agir muito mais tranquilamente se existir estabilidade de preço”, pondera.
Para Ourique, “essa safra não desequilibra os preços internacionais porque só poderá ser considerada grande se o mercado pudesse antecipar o que vai acontecer nos outros países produtores de arábica, o que só se vai saber em novembro, quando a pressão brasileira de comercialização já terá diminuído muito”.
Ele também diz que esses números não são novidades para o mercado interno e nem internacional: “a Conab se aproximou ao número do comércio, essa é a primeira conclusão que chegamos. O comércio começou falando em 60 milhões de sacas. Hoje as estimativas de safra das empresas exportadoras e de alguns importadores estão entre 50 e 55 milhões de sacas e esse número para o mercado não é surpresa, porque em anos anteriores esse número já apareceu. A Conab chegou a um número que o mercado já considerava como o da safra brasileira, e a gente não pode ficar assustado de que a previsão ultrapassou a barreira dos 50 milhões de sacas”.
Ourique frisa que “devemos sempre lembrar que a produção recorde brasileira vem ao encontro de números também recordes de consumo mundial”.

Os preços
Francisco Ourique diz que a influência de diversos fatores na formação dos preços de café deve ser considerada. “Há um componente especulativo nos preços do café. A maior preocupação é saber os efeitos dos problemas que a Europa enfrenta e como a demanda agregada mundial vai se comportar. Em qualquer quadro recessivo, o produto que menos sofre é o café, sofre menos do ponto de vista de volume, mas pode sofrer do ponto de vista do mix de qualidade do blend dos torrefadores. Isso quer dizer que pode haver uma mudança no comportamento industrial que pode procurar por produtos mais baratos de qualidade inferior e isso não vai afetar o fluxo brasileiro, nem irá provocar uma depressão nos preços brasileiros. Tendo uma falta de crédito nos países importadores, o Brasil terá que suprir o setor produtor e toda a engrenagem comercial brasileira, com mais crédito”, finaliza ele.
Fonte: Coffee Break

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