quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ora, tinha até café-de-rapadura

Se alguém disser que aqui não tinha nada, enganou-se redondamente, considerando que o engano tem forma redonda.
_ Sabe por quê?
_ O diálogo, os casos, os cafezinhos com rapadura (que não deviam estar frios), os amigos, os vizinhos e compadres, sentados do lado de fora da casa para tomar a fresca – o ar ameno da noite. Reuniam-se para aquele papo descontraído, brincalhão e muito riso. Às vezes, era alguém cantando uma moda ao som de uma viola sentida que arrancava lágrimas dos mais sentimentais do grupo.
Quando muito, às nove horas, e todos iam para os seus lares com boas-noites e desejos de melhoras aos adoentados, e muitos, ainda, iam com o som do repique da viola ou com sorrisos e seus semblantes.
Como era bonito, sereno e generoso o meu Monte Santo! A solidariedade em alto relevo, todos queriam saber da vida de todos: da saúde, negócios, enredinhos e das noticias vindas dos centros grandes, quando alguém as trazia, outros vinham integrar no grupo que crescia para ouvir o doutor narrar os acontecimentos do mundo.
Era comum em 1920,  ir o povo à Estação da Saudosa Mogiana esperar o trem (o misto ou o expresso) e quando chegava gente “importante”, era esperada com banda de música, fogos, discursos, aperto de mão, bater nas costas como se estivessem  engasgados.
Imaginem, imaginem só, naquele tempo sem rádio, televisão, futebol no campo da        Rádio e no Campo da américa, sem automóvel, início de um cinema rudimentar. Mas havia a Igreja: às seis horas Ave Maria, as missas em latim e o padre de costas para os fiéis, as pastorinhas, filhas de Maria, as confissões para contar os “cabeludos”, festas, leilões, boa cachaça e muita, muita alegria.
Hoje com tanto recurso, culto a inteligência e pouca sabedoria, pouco diálogo... por quê? 
Porque um aparelho fala, canta, noticia e nós apenas ouvimos, muitas vezes lamentamos e outras vezes achamos que ficamos sabidos por causa das informações, século do culto à inteligência e de pouca sabedoria - desculpe repetir a fixação.
Antigamente, as pessoas valiam pelo que tinham de material, mais tarde por aquilo que eram e hoje - o século dos que parecem ser.
Grande parte das pessoas adquirem carros, apartamentos e vão se endividando graças aos apelos / ofertas do consumismo. A escravidão voltou e como os grandes investem nela através de financiamentos estimulados pelo consumismo diante da preguiça de pensar nas desastrosas consequências de aquisições que geram dívidas por tempo absurdo e no final dos financiamentos, continua a imensa cadência do jongo rumo a cômoda escravidão do crédito fácil.
Como é lamentável vender os frutos que uma árvore vai produzir no próximo ano. Os adivinhos, os magos capitalistas, já penhoraram ou hipotecaram suas propriedades como garantir na certeza da produção futura?
Não sou contra o progresso jamais, nem contra empréstimos, os bancos estão aí para isto, mas sou contra a escravidão em prol do engodo e vantagens mesquinhas, despertadas pela avidez consumista nas pessoas. 
Gosto do conforto, do equilíbrio e da justiça e acima de tudo creio em Deus e em suas determinações. Não é vergonhoso dever – é até sublime – sinal que tem crédito e honradez, mas é estultícia ser escravo de dívidas muito prolongadas – olhe as consequências já efetivadas pela inadimplência com muitos financiamentos simultâneos e desnecessários. 
Desculpe amigo, pense novo, no novo ano novo. Tô certo ou tô errado? Até mais!


Professor Adhemar


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