quarta-feira, 4 de julho de 2012

Espaço Memória HR - PRESENTES DE NATAL

 As noites de Natal existem para me mostrar que os anos têm sido arrancados das folhinhas. E me lembram de que já vou carregando, no corpo, na alma, no coração, as tatuagens do tempo. Houve o Natal do carneirinho manso, que meu pai me deu para ser saudade hoje. Houve o da flauta, o do velocípede, o da bicicleta. Depois, o das obras de Júlio Verne. Mais adiante, o da Enciclopédia e Dicionário Internacional. Um dia, fui visitar casa amiga. E a empregada me anunciou: — Aí está um rapaz. Desde então, o Natal se foi transformando em pijamas, camisas, gravatas, lenços. Noutra visita: — Aí está um moço. Notem que, no caso, moço é mais velho que rapaz... Meu Natal passou a faturar abotoaduras, alfinetes de gravata, carteiras de cédulas ou de níqueis, cintos e agendas. Agora, quando visito algum amigo, as empregadas me anunciam: — Aí está um senhor. Quando o dono da casa é cortês, ri: — Que senhor, que nada, Maria. É o Iolando. Entra velho. O velho em tom fraterno remoça mais a gente. Acho horrível ser senhor. Assim, o último Natal me deixou mágoa estranha. Porque pessoa querida, das que sempre me presentearam no nascimento do Cristo, apareceu com uma caixinha embrulhada em papel multicolor. Todo alegria, abri o embrulho e a caixinha. Eram uns suspensórios!...
Nestor de Holanda

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