quinta-feira, 25 de agosto de 2011

ESPAÇO MEMÓRIA - MEU PAI


Depoimento de um filho adulto sobre o seu pai.
Aproveite para conhecer um pai antes que a espécie se acabe. Meu pai é um camarada desses que pouca gente conhece. Um dia, quando eu tinha vinte anos, me deu um tapa na cara que não esqueci até hoje. Nunca comprou pra si mesmo um sapato tão bonito como os que comprou pra mim. Nem se vestiu como eu nos alfaiates que me pagou. Nem pode ler como eu os livros que me comprou. Mais o meu pai me ensinou coisas e gestos que nenhum livro ensinou. A sua sabedoria simples e objetiva, a sua filosofia um grande exemplo de vida.
“_Filho, o mais forte deve agüentar o maior peso. Filho, ninguém deve dar o passo maior que a perna. Quando você tiver um filho você vai saber o que é ser pai. Filho, não existe escuridão maior do que a da meia noite. Filho, para ser justo é preciso sempre ouvir os dois lados da questão. Filho, dizia o meu pai, quando a gente é bigorna deve agüentar as pancadas até a hora de ser martelo”. Meu pai temia muito a vergonha, por isso nunca envergonhou ninguém. Um dia do pai na sua simplicidade descobriu uma grande solução. Os mentirosos deveriam ser mandados para uma ilha deserta para ficarem todos juntos. Os ladrões também, os falsos e os exploradores. Ele na sua simplicidade queria a cada um o que é seu e o encontro dos iguais. Sempre acreditou em mim, por isso quando eu mentia, sentia tanta vergonha que logo voltava lá a me falar da verdade. Não sei onde ele aprendeu Sócrates, Tales, Platão. Mais quando eu abri os livros dos gregos que já sabiam, descobri que eu já sabia por que meu pai me ensinara. E diziam para o meu pai. _ Mais você não vai ali nem acolá?, Perguntavam as pessoas. E ele olhava para elas enxergando seus problemas, matutava. Se eu estou bem no meu barco, para que mergulhar no mar arriscando-me afogar? Se precisar eu mergulho, mas eu vejo vocês nadando sem destino, se cansando. Sou capitão desse barco e sei onde vou chegar. A minha tripulação pode confiar em mim. Se um dia o barco afundar, sou o ultimo a saltar. Um dia numa pesquisa, descobri que pesados os pesares minha mãe era feliz. Os filhos do grande Chaplin estavam loucos de maconha. Marilyn se suicidou. Bêbada a filha de Sir Churchill desesperada deu o show. Os homens se inverteram, a mulher se libertou. O Nixon foi deposto. O Onassis, segundo próprias palavras morreu sem saber em quem confiar. As coisas estão subindo. No espaço, russos e americanos se deram a mão. Nesse domingo nós vamos nos reunir e comer do mesmo macarrão. Se meu pai tivesse estudado, teria sido um grande revolucionário ou um governo decente ou talvez fosse um bandido, um Robin Hood, sei lá. Nunca chamei o meu pai de velho e nem nunca vou chamar. Meu pai pra mim é uma árvore dessas duras de cair, dessas que crescem firmes, dessas que morrem de pé, dessas que deitam raízes de verdade e espalham sementes de justiça. Um dia quando eu tinha vinte anos ele me deu um tapa na cara que eu agradeço até hoje. Dedicado a um homem chamado Nicolau, czar da sua união, presidente democrático da republica dos seus filhos unidos, chefão de sua máfia, marido de sua mulher, escravo do seu amor, avô dos seus netos. Não há nenhuma lei do mundo capaz de mudar o que esse homem já fez. O que ele fez com a sua simplicidade, com a sua humildade está feito.     
HR.


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