terça-feira, 12 de junho de 2012

5ª Avenida - DONA EMILIA

    Dona Emília de Barros Lareschi, brasileiramente, Larisca, era carioca da gema.Nascida no Bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, em 1900. Trazida pelo marido, Sr. Antonio Victor Larisca, chegou em Monte Santo de Minas em 1926. Seu pai era comandante do Lloyd Brasileiro. Tinha ela um jeito especial de lidar com crianças e eu fui um dos que se honraram com sua presença e atenção, ouvindo seus casos do Rio Antigo, pronunciados com XXX. Foi chapeleira. Após o expediente ia ver e ouvir com as colegas, o Vicente Celestino. Adorava o cantor, maior ídolo da época, levava flores para homenageá-lo. Eu e outras crianças ficávamos dependuradas em suas falas de sotaque carioca, em seus chás mate com pão e manteiga. E na cozinha da sua casa que permanece até hoje, ficávamos de olhos compridos na excelência das coisas gostosas que ela fazia. E nos Natais eram festivais de manjares de comidas portuguesas: rabanadas inesquecíveis. Sempre achei que Dona Emília falava sorrindo e na ponta da língua, com os olhos apertadinhos. Andava na ponta dos pés no seu “carioquês”. Caridosa acolhia e cuidava de quem precisasse, fosse quem fosse. Carnavalesca, dançava no Bloco dos Casados, no antigo Cine Teatro Recreio. Quatro filhos, eram seus encantamentos: Heiliette, Léa, Victor e João Larisca. Depois, já adulto, ausentei-me de Monte Santo, mas nunca deixei de frequentar a casa. O tempo não apaga as amizades sinceras. Em 1971, passou Dona Emília a outro plano. Deixou a matéria, mas seu espírito imortal deve flutuar na ponta dos pés para não incomodar ninguém. Saudades. Autor Roberto Luz
    Como neta de Dona Emília de Barros Larisca ousei publicar o texto do nosso estimado amigo da família Roberto Luz, como forma de gratidão, na Quinta Avenida.
E, como também me lembro bem de seus casos, passo a relatar alguns deles.
    - Minha avó Emília veio morar em Monte Santo, em 1926 e nunca mais retornou ao seu saudoso Rio de Janeiro, tão querido! Na oportunidade, trouxe sua velha Tia a tiracolo e sua filha carioca Heiliette (minha mãe), na época, com dois anos de idade. Esta Tia foi quem a criou, pois vovó ficou órfã muito cedo, sabemos que seu pai o comandante português morreu de beribéri, doença acometida a quem singrava os mares, por meses, sem pisar em terra firme. Pois bem, a tal Tia disse, ao avistar a nossa cidade : - Minha filha, tu viestes morar onde o Judas perdeu as botas!!!
    - Com relação às flores que o nosso autor fala sobre elas, me consta que uma delas foi jogada no colo de Dona Emília, pelo cantor Vicente Celestino, a despeito de suas amigas que ficaram somente na inveja.
    -Certa vez, a moça Emília passeava pelo porto da cidade do Rio de Janeiro e um marinheiro se aproximou, pedindo uma foto da bela donzela. Sua severa Tia deu o consentimento e mantenho esta foto ampliada e a cores, no meu quarto, até hoje.
    -Tinha um cacoete inimaginável, gostava de mexer no seu umbigo, conseguindo rasgar seus aventais neste exato lugar.
    -Médium de cura, conseguia livrar as crianças do cobreiro. Muitas vezes, o pediatra mandava alguns casos para a Dona Emília resolver.
    -Gostava de dançar e mantinha nos seus guardados uma faixa azul de seda, que ganhara num baile onde teria valsado, durante a noite inteira, volvendo sempre pela esquerda ou direita, não me lembro bem.
    - Todas as suas comidas recebiam um nome: Papinho de Anjo era o bife à rolê, Aranha era a vagem passada no ovo e farinha, Amor em Pedaços era o seu maravilhoso bolo de laranja, com calda de açúcar por cima e, por aí vai.
    -Muito caridosa, tinha os seus “fregueses  menos favorecidos” diários, semanais e mensais. (Chen, Jiló, Carubina e tantos outros). Eu me lembro dela voltando descalça de um passeio, seus chinelos foram doados por ela, durante o passeio.
    -Adorava chupar laranja e enfiava seu nariz na fruta até sugar a última gota e para seu deleite comprava toda a produção da laranja campista, produzida na chácara da dona Carmélia, localizada lá pelas bandas do Pontilhão. Quando pequena eu nunca consegui entender este acordo estabelecido, entre minha avó e Dona Carmélia...
    -Quanto ao andar na ponta dos pés,citado pelo autor,confesso que não me lembro desta época, pois ela sofreu um reumatismo que a deixou por 19 anos numa cadeira de rodas, improvisada pelas hábeis mãos de meu avô Victor. Suportava dores horríveis, que deformavam seus pés e mãos, sem nunca se queixar.
    Assim minha querida vó Emília, que apenas escutava o que lhe convinha... Muitas saudades de tudo. Sua neta Wandaeleusa

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