sexta-feira, 30 de março de 2012

A História de um Monte-santense de 96 anos


Como é gostoso ouvir as histórias, os casos acontecidos em Monte Santo e muitos já caídos no esquecimento narrados pelo Sr. Graciano de Oliveira, o nosso estimadíssimo Fiúca. Cidadão educado, portador de uma brilhante e inigualável memória que reaviva e traz ao presente 90 anos de eventos curiosos, surpreendentes e como realmente ocorreram, pois ele foi testemunha daqueles momentos saudosos: como o modo de pensar, a influência exercida no pensamento de hoje e que o tempo, muitas vezes entorpece a nossa lembrança, nossa memória exata dos fatos pela crescente onda de novidades e imagens. Contudo ainda podemos ouvir a voz inconfundível deste ilustre cidadão que moldou muito couro para os pés de milhares de pessoas. Fiúca é um senhor que soube colocar gratidão em seu coração, aprendeu a viver em paz e ensinando os outros a construírem a paz, pois a idade avançada nos mostra uma grande lição foi escolhido por Deus para revelar que aprendeu a viver a vida com beleza, em harmonia com a sabedoria relacional nos convidando a aprender o que é saudável. Fiúca não está velho, ele continua envelhecendo e contando belas histórias que é como música para o ouvido. Começou sua profissão de sapateiro em Altinópolis e lá residia com sua tia Maria Magalona, esposa do Sr. Ítalo Perucchi, italiano naturalizado, trabalhava na Coletoria Federal, era maestro, tocava clarineta. Fiúca nasceu em 04.12.1916 em Milagre. Filho de Pedro Pierre de Oliveira, lavrador e de dona Josina da Costa dois anos mais velha que o marido. Graciano fez o curso primário no Grupo Escolar “Joaquim da Cunha” em Altinópolis
          ;       Maria Joana Cardoso foi a primeira doadora de terreno para construir Milagre. Ela era irmã da avó do valoroso sapateiro cujo nome era Teodora Cardoso a qual vendeu seu sítio em Milagre e comprou a casa onde mora o Fiúca desde 1931. Na rua que vem para o Jardim Magnólia havia uma porteira e mais à frente , uma bem montada máquina de beneficiar arroz do Sr. Vasco Viani perto da Gerais Seguros. Mário Sagantini foi seu primeiro mestre na arte de trabalhar com artefatos de couro. Voltou para Monte Santo em 1932 e já sabia fazer botinas de carregação que custavam entre 8 e 10 mil réis e as botinas mais finas de encomenda eram de 15 a 18 mil réis, bem caras naquela época e a maioria ficava devendo muito tempo. Era comum o povo da roça andar descalço e a maioria punha uma botina no pé, lá pelos seus 14 anos de idade. A sapataria se situava onde é a Panificadora “Pão Gostoso” e era de propriedade da dona Cotinha, irmã do Plinio Quinetti. Fiúca começou o ofício com Custódio Assunção e Giovanni Tortorelli, este engordava também porcos para melhorar a renda. Em 1935, havia 3 bombas de gasolina: uma do Antônio Parisi, no Jardim Velho; outra dos irmãos Braga perto do consultório do Dr. Humberto Falbo e a última na Av. Antônio Paulino da Costa onde é hoje o bar da dona Nilva de propriedade do sírio João Domingos.
          ;        Colaborou, na organização do carnaval, que começou em 1935, sendo seus fundadores: José de Campos Cardoso (farmacêutico), Alberto Marino, Chiquinho Magalhães, José Lattaro de Oliveira, Alfredo Donabella e outros. Fiúca teve vários empregados sapateiros e dos bons como ele disse, eram eles: Edvar Donabella (o Neguinho), Joaquim Zambrota, Adauto Mafra Ribeiro, Geraldo Domingos, Adolfo Paulino de Paiva, Manuel dos Anjos e Alceu Queiroz. O nosso ilustre cidadão bebia, jogava e fumava cigarros da marca liberty e continental sem filtro. Não excedia em nada para conservar saudável. Comprava couro de Mococa, Pinhal, Passos, R. Preto para uso nos artefatos. Disse que em 1928 o rico era muito rico e o pobre bem pobre, havia muita separação, isto é, preconceito. O primeiro calçamento feito pelo prefeito Juca Quinetti vinha do Banco Itaú até o Jardim Velho – começa a acabar a poeira nas casas. Dançava-se muito no Clube Monte Santo, ritmos como valsa, tango, foxtrote, marcha, mazurca. Entre a Estação da antiga Mogiana e Av. Limírio P. de Mello moravam em casebres os pobres e lá havia muitos leprosos, tuberculosos e toda sorte de tristeza. Fiúca trabalhou 70 anos e só deixou o ofício porque sua visão ficou seriamente comprometida. Que o Senhor Deus o proteja e o abençoe ricamente.   


Professor Adhemar


1 comentários:

Adorei conhecer a história de Monte Santo,narrada por uma pessoa que tenho maior admiração e respeito o Sr Fiúca.E escrita por outra pessoa que também admiro muito, foi meu professor, colega de profissão,e meu diretor.O querido professor Adhemar, como é chamados carinhosamente pelos seus alunos.

Ivani Ragazzi

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