quarta-feira, 21 de março de 2012

Epaço Memória HR - NO MEU TEMPO

Creio que ainda não tenha relatado aos leitores imaginários sobre meus, também imaginários, futuros netos. São todos bonitos, inteligentes e fofos, pois saíram ao avô, que guarda tais características em abundância. Sentam-se habitualmente ao meu redor e escutam atentos e maravilhados, histórias sobre um longínquo tempo, do qual eu sou uma das poucas testemunhas vivas. Enganam-se vocês ao prever, como eu fiz que o maior espanto vem no momento que conto sobre a época quando não havia as Internets. A primeira vez que fiz tal relato, eles balançaram as cabecinhas, com aquela cara de “jáseijásei”, como quem escuta uma conversa tão repetida que já se transformou em uma alegoria de sim mesma.
Eles, por mais inusitado que pareça, gostam de ouvir sobre os hábitos que existiam e desapareceram com o tempo. Falo, por exemplo, sobre como fui criado lendo jornais, entregues diariamente em minha casa por um sujeito de bicicleta. No atraso do exemplar matinal, eu telefonava (algo que precisou ser esclarecido) para reclamar. Quando explico que o hábito de leitura dos periódicos me inspirou a, anos depois a escrever uma coluna de crônicas, eles acham incrível. Pedem para ler os textos e se divertem com alguns. Não entendem, por exemplo, porque eu falei sobre um cara chamado Steve Jobs, tampouco o porquê de tantos textos sobre coisas passageiras.
Mas são os escritos mais simples que lhes encantam. Gostam dos textos sobre pessoas que vejo por ai no dia a dia da vida. Tentam entender porque me preocupei tanto tempo sobre a tristeza e felicidade. A neta que mais saiu ao avô, quieta de olhos vivos, pergunta qual é o tempero predileto. Eu digo que não são os temperos que me encantam, mas seu aroma, sabor e energia.
Uma das boas vantagens de viver em um mundo que muda tão rápido é acumular histórias para meus futuros netos. Mas eles não querem saber sobre como foi a vitória na Copa de 2014 ou sobre como funcionavam as impressoras matriciais. Vivem no varejo, em busca de histórias que explique quem são. No máximo perguntam onde eu estava quando o mundo acabou e recomeçou. São meio estranhos esses meus netos.
edgarlook

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