quinta-feira, 23 de junho de 2011

Planeta Água Ameaçado

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Estatísticas referente à ação do homem sobre os recursos hídricos são muito ruins, e os resultados piores ainda. Governos, empresas e sociedade estão buscando maneiras de reverter a situação
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a escassez de água atinge 1 bilhão de pessoas atualmente. Este número pode dobrar em 20 anos e, em 15 anos, 1,8 bilhão de pessoas vai sofrer com a falta de água potável. O problema é uma realidade em vários locais do planeta, preocupando cientistas e autoridades que buscam medidas para evitar a degradação das reservas hídricas.
A água cobre 70% da superfície da Terra. No entanto, pouco mais de 1% da água do globo pode ser utilizada para uso e consumo humano. Pouca oferta gera estatísticas negativas: uma em cada oito pessoas do mundo não tem acesso à água limpa; quase 70% da água doce é desperdiçada por causa de vazamentos e sistemas ilegais em países em desenvolvimento; cerca de 90% dos esgotos são jogados nas águas sem tratamento adequado; 80% de todas as doenças e 33% das mortes em países em desenvolvimento estão associadas a problemas com a água.
“Má utilização da água, uso exagerado, poluição, lançamento de resíduos químicos, desvios de rios, córregos, transposições de bacias, desperdícios, canalizações, mau uso do solo e, nos últimos tempos, mudanças climáticas criam cenário preocupante não apenas para o futuro, mas principalmente para o presente”, destaca o biólogo Samuel Barreto, coordenador do Programa Água para a Vida, da organização não governamental (ONG) WWF Brasil.
Para Samuel, além do Estado, os cidadãos e as empresas são parte na busca por soluções, uma vez que todos têm responsabilidades. Um exemplo de boa iniciativa veio do próprio Banco do Brasil. Em parceria com a Fundação Banco do Brasil (FBB), a WWF Brasil e a Agência Nacional de Águas (ANA), o BB criou, há poucos meses, o projeto Água Brasil. O objetivo é promover um conjunto de iniciativas para proteger as águas brasileiras e conscientizar as pessoas sobre o uso sustentável do recurso. Serão desenvolvidos projetos que envolvem bacias hidrográficas em cada um dos biomas brasileiros que vão permitir a disseminação e a replicação de modelos e de melhores práticas de gestão e conservação de recursos hídricos. No meio urbano, serão implementadas ações para o estímulo ao consumo consciente e ao tratamento adequado dos resíduos sólidos. O projeto vai atuar em diferentes vertentes, que vão desde proteção da atmosfera e manejo dos solos, combate ao desflorestamento, desertificação e seca, conservação da biodiversidade até proteção e gestão de oceanos e águas doces, uso adequado de produtos tóxicos, entre outras. Tendo em vista que o BB é o maior financiador da agricultura familiar no país, ao mesmo tempo em que a agricultura irrigada tem sido apontada como uma das grandes vilãs do desperdício de água, o projeto aponta melhorias para o setor agrícola, disseminando práticas agropecuárias, bem como favorecendo a implementação de modelos de negócios sustentáveis.
Gestão
O Brasil detém 12% de todos os recursos hídricos do mundo, mas faltam planejamento e cuidado com a qualidade da água. De acordo com o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 99,4% dos municípios brasileiros contam com rede de abastecimento, mas pelo menos em uma a cada cinco casas não há água encanada. Até 2008, moradores de 827 municípios brasileiros ainda tinham de recorrer a carros-pipa, poços, chafarizes, minas e bicas. No mundo, o tratamento de esgoto ainda é Inacessível para 2 bilhões de pessoas. De acordo com a ONU, a falta de acesso à água potável e de saneamento básico mata uma criança a cada 19 segundos no mundo. “Quanto mais contaminada a água estiver, mais caro é o tratamento, e isso significa que a sociedade precisa pagar mais. A água não é apenas de uso individual, mas também é um bem social”, reflete o professor de geoquímica da Universidade de Brasília (UnB) Geraldo Boaventura.
O biólogo Samuel Barreto explica que “a água é uma questão de gestão. Se o Estado não investir em saneamento, vai gastar da pior maneira possível. A própria ONU já confirmou que a cada US$ 1,00 que o governo deixa de investir em saneamento básico gasta de US$ 4,00 a US$ 5,00 com a população doente nos hospitais. Outros estudos mostram que esta relação pode chegar de US$ 1,00 para US$ 45,00, ou seja, para cada dólar investido em saneamento pode-se economizar até US$ 45,00”.
Atualmente, o Brasil possui um dos mais modernos arcabouços para gestão dos recursos hídricos. Um deles é a Lei das Águas, Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que deu a possibilidade de se criar em nível nacional um sistema que harmonizasse os diversos usos dos mananciais – geração de energia, abastecimento da população e irrigação de cultivos. Em 2000, o Congresso Nacional aprovou a criação da ANA, órgão do governo federal responsável pela gestão dos recursos hídricos no país. O trabalho é conduzido em parceria com os Comitês de Bacia, que se espalharam no Brasil, após a nova legislação. Estes comitês reúnem representantes da sociedade civil em cada região para sugerir iniciativas, a fim de preservar os rios e evitar conflitos. O governo federal está desenvolvendo o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). Segundo o secretário nacional de Saneamento Ambiental, Leodeger Tiscoski, “a meta é a universalização dos serviços de saneamento até 2030, com investimento total de R$ 420 bilhões. Em 20 anos, 100% do país terá abastecimento de água potável, destinação correta para o lixo e drenagem das águas pluviais; e 91% do esgoto será coletado e tratado. Existe segurança real sobre a possibilidade de cumprirmos estes números, porque foram definidos após muito estudo”, afirma. O biólogo da WWF Brasil defende que a boa governança é fundamental para evitar situações de conflito e escassez; no entanto, acredita que o Brasil não precisa de mais leis sobre o assunto. “Nosso país tem uma das leis mais modernas de águas do mundo. A dificuldade está em conseguir trazer o público da sociedade civil e do governo para usar e planejar a utilização do recurso”.
Consumo com desperdício versus consumo racional
A população mundial precisa mudar os hábitos com urgência. É possível economizar mais de 400 mil litros de água por ano, fazendo consumo racional e consciente de água. Em um minuto de redução no tempo de banho, economiza-se de 3 a 6 litros de água. Pode não parecer nada, mas, se multiplicado pela população do distrito Federal, por exemplo, que é de 2,5 milhões de pessoas, a ação individual adotada em escala faz a diferença. Veja a seguir como você pode contribuir para a economia de água em seu dia a dia.                    

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